Com Temer na berlinda, como fica a economia?

Mercado financeiro amanheceu em pânico e economistas já preveem paralisação de reformas e cortes menores nos juros

São Paulo – Os primeiros sinais do mercado financeiro na manhã desta quinta-feira (18) são de pânico após a divulgação de denúncias a Michel Temer na noite desta quarta-feira (17).

O jornal O Globo noticiou que Joesley Batista, um dos controladores do frigorífico JBS, gravou o presidente autorizando pagamentos para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso.

O Ibovespa teve a sessão interrompida por 30 minutos, gatilho automático quando a queda ultrapassa 10%. Foi a primeira vez desde 2008 que isso aconteceu.

Na volta, se a queda atingir 15% ante o encerramento do dia anterior, os negócios são suspensos por 1 hora.

O dólar futuro disparou e atingiu o limite máximo permitido de 3,3235 reais para este pregão.

“O cenário de curto prazo ficará bem complicado. Há muita incerteza em relação ao timing da saída do Temer e especialmente quem vai entrar. Serão dias de câmbio pressionado, talvez indo para 3,3 ou 3,4 e a depender do que sair a frente pode acalmar um pouco”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Caso o impeachment ou a renúncia se confirmem, caberá ao Congresso eleger, por via indireta, um novo chefe para o Executivo Federal.

Até que um novo pleito seja realizado, a lei determina que o presidente da Câmara dos Deputados – atualmente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assuma interinamente a Presidência da República.

O prazo para as eleições é de 30 dias a partir da publicação da cassação da chapa. Para se eleger, o candidato precisa receber a maioria absoluta dos votos do Congresso – ou seja, metade mais um.

“O maior prejuízo é a freada dos investimentos. Quem arrisca investir nesse momento de turbulência? E leva a um efeito negativo sobre a dinâmica macroeconômica: a recuperação que já estava fraca deverá continuar um tempo maior. Mas, por enquanto, não creio que isso signifique uma nova queda do PIB neste ano, visto que a alta do dólar está favorecendo o agronegócio e toda sua matriz intersetorial”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.

Os números de crescimento no primeiro trimestre serão divulgados no dia 01 de junho e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, espera uma alta entre 0,7% e 0,8% em relação ao trimestre anterior.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, considerado uma “prévia do PIB” registrou crescimento de 1,12% de janeiro a março, na comparação com o trimestre anterior.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta terça-feira apontaram abertura de quase 60 mil vagas de emprego formal em abril, o primeiro resultado positivo para o mês desde 2014.

Os sinais de fim da recessão, que já eram tímidos, devem sofrer um novo abalo com as denúncias, de acordo com economistas.

O mercado vivia um período de otimismo diante de números melhores do que o esperado na inflação e queda na expectativa de juros futuros.

O Copom se reúne no próximo dia 31 para decidir a taxa Selic e a aposta de bancos como Itaú e Fibra era de uma aceleração no corte do 1 ponto registrado nas últimas reuniões para 1,25 ponto.

O mercado agora espera corte menor por dois motivos: câmbio mais alto aumenta a inflação, e o cenário mais benigno dependia do andamento das reformas, que fica agora prejudicado.

“Todo o trâmite da Reforma da Previdência fica paralisado, sem falar nos impactos adicionais em outros políticos, o que torna difícil imaginar as reformas andarem. A única chance seria uma visão de urgência no Congresso de que sem as reformas o país afunda. Mas é difícil imaginar se será possível, dado que o timing já estava muito apertado por conta do calendário eleitoral do ano que vem”, diz Vale.

Por enquanto, o governo tenta demonstrar normalidade. Temer afirmou a um grupo de parlamentares em audiência hoje que não vai cair, mas cancelou a agenda do dia e deve fazer pronunciamento.

Romero Jucá (RR), presidente do PMDB e líder do governo no Senado, disse ontem que as reformas são prioridade e continuam:

“A questão é focar na recuperação do Brasil. A reforma trabalhista está caminhando bem aqui bem no Senado, a reforma da Previdência está evoluindo também. Portanto o cronograma das reformas continua”.

Em publicação no Facebook, André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, deu uma previsão mais sombria:

“Não haverá reforma da previdência, não haverá reforma trabalhista. O corte da Selic não será de 125 pontos, mas sim de 75. A curva de juros vai “empinar”, dólar vai subir e bolsa vai realizar. O Banco Central vai ficar de olho em câmbio e expectativas de inflação como nunca.”

Fonte: Exame.