Em época de crise, ainda podemos comprar a crédito?

Embora o momento econômico peça que o brasileiro fique longe de dívidas, recorrer ao credito às vezes é necessário. Veja em quais situações isso pode ser feito e quais cuidados tomar antes de comprometer suas finanças, especialmente na crise
Pergunte para qualquer especialista em economia e finanças sobre fazer empréstimo, começar um financiamento, usar o cheque especial ou parcelar compras nesta época de crise e a resposta será a mesma: evite a todo custo! “Estamos em um momento de incertezas econômicas, inflação alta, juros em patamares elevados. É hora de economizar, de guardar dinheiro e evitar se comprometer com dívidas”, alerta Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil. É isso mesmo: aquela viagem que você estava planejando? Cogite deixar para o ano que vem – ou guardar dinheiro para pagá-la à vista. Aliás, qualquer grande sonho de consumo deve ser bancado preferencialmente à vista ou adiado, dependendo da situação financeira da família.
“O que pode ser considerada uma exceção é a compra de um imóvel, pois exige uma alta quantia que muitas famílias não conseguem juntar em apenas alguns anos. Neste caso, recorrer ao crédito pode ser necessário”, diz Marcela. No entanto, o passo deve ser muito bem pensado e planejado, afinal, estamos falando de uma dívida que muitas vezes dura décadas. “A pessoa deve procurar os juros mais baixos, pesquisar e se informar muito bem antes de assinar qualquer contrato”, diz a economista. Além da compra de imóvel, recorrer ao crédito pode ser uma opção, mesmo na crise, em outras duas situações: emergências e ao trocar uma dívida com juros altos por outra, com taxas mais baixas.
Abaixo, entenda melhor cada uma das situações em que recorrer ao crédito é válido em tempos de crise, e veja dicas para não se atrapalhar nas contas – e nas dívidas!

Comprar imóvel
Situação: você conseguiu juntar uma quantia suficiente para dar entrada num imóvel, mas não possui o bastante para quitar o bem, necessitando de um empréstimo ou um financiamento para fechar o negócio.
Dica: prefira o financiamento imobiliário, que possui juros menores. E, dentro das opções, pesquise muito bem cada instituição financeira, buscando os juros mais baixos. No site do Banco Central você clica em qual tipo de crédito gostaria de pesquisar e é direcionado para uma página com as taxas médias de cada instituição. Tenha em mente, no entanto, que financiar um imóvel atualmente é um compromisso de longo prazo que deve ser muito bem pensado, principalmente por conta do momento econômico desfavorável. Assim, procure de todas as formas “engordar” o valor da entrada, reduzindo o montante a ser financiado, como por exemplo vendendo um carro ou investindo o dinheiro e esperando um pouco mais para fazer essa compra. “Não é a hora de fazer dívidas a longo prazo, a não ser que tenha absoluta certeza de que conseguirá arcar com esse compromisso”, alerta Marcela.

Trocar de dívida
Situação: Você usa o cheque especial para pagar a fatura do cartão de crédito e usa o cartão de crédito para pagar todas as outras contas, já que está no vermelho. Resultado: uma bola de neve, ou melhor, de dívidas, que só se acumula. “Os juros do cartão de crédito e do cheque especial são extremamente altos, é preciso ficar longe desse tipo de dívida”, alerta José Vignoli, educador financeiro do Portal Meu Bolso Feliz. Assim, tratando-se de dívidas com juros muito altos, recorrer a um empréstimo com juros menores para quitá-las pode ser mais vantajoso, mesmo na crise. “Mas lembre-se que você continuará endividado, apenas trocou uma pendência por outra”, alerta Marcela. Por isso, mesmo usando deste recurso, dedique-se a economizar até se ver livre de vez de qualquer valor devido!
Dica: em primeiro lugar, jamais recorra a empresas que oferecem crédito para negativados, pois estes juros costumam ser altíssimos! Para substituir uma dívida no cartão de crédito, no cheque especial e mesmo de algum crédito pessoal, a melhor opção é buscar um empréstimo consignado. O crédito consignado é um empréstimo em que, todo mês, as parcelas da dívida são descontadas direto do seu salário ou benefício do INSS antes mesmo que você receba o dinheiro. É mais vantajoso porque, com a garantia de que receberão as parcelas em dia, os bancos e financeiras conseguem cobrar juros menores, afinal, o risco de inadimplência é mínimo. Ele pode ser obtido por qualquer pessoa que tenha carteira assinada (desde que a empresa tenha convênio para esse tipo de empréstimo), ou seja, aposentado e pensionista do INSS, além de funcionários públicos federais, estaduais, municipais e também os militares (forças armadas).

E emergências?
Desastres naturais, acidentes, problemas de saúde… O ideal para lidar com essas situações é possuir uma reserva financeira justamente para imprevistos deste tipo. Dessa forma, você tem maior segurança, e não precisa comprometer suas finanças, o que se torna ainda mais grave em momentos de incerteza econômica, como o atual. Entretanto, em caso de ausência desta reserva, aí, não tem jeito, é preciso recorrer ao crédito. “Prefira também neste caso o consignado, que possui juros menores”, diz Marcela. Não tendo acesso ao crédito consignado, então a melhor opção é pesquisar bastante as menores taxas de juros e melhores condições do mercado. Faça um planejamento e organize suas finanças antes de ir buscar essas informações, já que saber exatamente o quanto pode pagar por mês te dá maior segurança para negociar junto à instituição. Além disso, tire todas as suas dúvidas e esclareça todos os pontos antes de tomar o empréstimo. Vale também pensar em outras formas de conseguir o valor necessário, como doação de amigos e familiares ou a venda de algum bem. Quanto menor o valor emprestado, melhor.

E para comprar carro, preciso de crédito, certo?
Nem sempre. Aliás, segundo os especialistas, o melhor jeito de comprar um carro é se planejar, economizar mensalmente, aplicar o dinheiro para que ele renda e só então comprar o automóvel, à vista. “Fazendo isso, não somente consegue-se melhores descontos como também não paga-se juros, ou seja, você gasta menos dinheiro e não mais”, diz Vignoli. Quem precisa do carro e não pode esperar, seja por qual for o motivo, deve pesquisar bastante! Simplesmente pesquisando as taxas de juros de diferentes instituições já é possível economizar um bom valor. Para ajudar nessa pesquisa, visite a página do Banco Central chamada calculadora do cidadão, que mostra o cálculo tanto dos juros do financiamento quanto do valor final. Com a melhor taxa em mãos, negocie-a junto à instituição, pedindo redução dos juros. “Dependendo do valor da entrada e do perfil do cliente, pode-se conseguir taxas melhores. Mais uma vantagem de tentar sempre juntar mais dinheiro antes da compra”, finaliza o educador financeiro.

Em quais situações NÃO devemos recorrer ao crédito
“Fora as situações citadas, como compra de imóvel, troca de dívidas e emergências, aconselha-se não fazer uso do crédito. Prefira economizar durante algum tempo e só então adquirir o bem desejado, especialmente em momentos de crise”, diz Marcela. Ou seja, compras maiores como eletrônicos e eletrodomésticos são sempre mais vantajosas quando realizadas à vista. Planeje-se, poupe todo mês e só então leve para casa o item desejado. Se, por acaso, a geladeira quebrou, não há conserto e você precisa o quanto antes de uma nova, aí essa situação entra na categoria “emergência”. Mas, fora isso, espere.
Lembre-se que usar o cheque especial, o cartão de crédito e mesmo iniciar um crediário, tudo isso é fazer uso de crédito, ou seja, usar um dinheiro que não possui e que terá que devolver no futuro, na maioria das vezes com juros. Assim, fique longe de compras parceladas. No máximo, se tiver disciplina e bom controle de suas finanças, pode parcelar no cartão de crédito, desde que em poucas vezes, para não perder o controle, e sem juros! Os juros dessa modalidade é um dos maiores, o que significa que você deve evitar ao máximo deixar de arcar com 100 por cento da sua fatura. Por isso, muito cuidado!

Fonte: Portal Meu bolso feliz