O final de 2016 traz a sensação de sobrevivência a mais uma jornada. E é hora de olhar para frente e entender o que nos espera no próximo ano. O franchising brasileiro já mostrou sua força e se manteve de pé, graças a muito trabalho, organização das estruturas e planejamento. Para o próximo ano, o cenário continua desafiador, mas com algumas oportunidades e negócios que abraçaram causas importantes seja em posicionamento, seja em inovação.
Economia
Especialistas do mercado indicam que 2017 pode ser efetivamente o ano da recuperação econômica. Se considerados todos os ciclos “recessão-recuperação” históricos, 2017 será um ano que tende a ser o ano da virada do jogo. Claro que devemos levar em consideração a montanha russa de emoções que temos visto no cenário político nacional e internacional. Se nada der muito errado, a chance das previsões se concretizarem é real.
Perfil do Consumidor
Já não cabe ficar falando dos millennials, de seus anseios e formas de consumir. Isso já não é novidade. Cabe agora decidir o que fazer com tudo isso que descobrimos sobre o comportamento dessa geração que tanto tem impactado os negócios.
Quem ainda não se preparou deve se preparar para lidar com o consumidor-cidadão-colaborador. Traduzindo, a mudança no comportamento das empresas também é urgente e deve se refletir desde a forma de contratar essas pessoas até gerar valor para cada momento de contato do cliente. Nunca foi tão importante entregar um momento da verdade de valor para quem investe seu tempo em se relacionar com a sua marca, produto ou serviço.
Mercado
Redes consolidadas que não tiverem medo da crise e não se afligirem com o que está por vir, continuarão investindo e crescendo. O que aconteceu e ainda deverá acontecer é uma revisão de planos e rumos a serem seguidos. Assim como em 2016, quem não aproveitou para usar a retração de muitos para acelerar e ganhar mercado, pode deixar de abocanhar fatias importantes. As redes que se aproveitaram da flexibilização de negociação com shoppings, fornecedores e demais elos da cadeia de abastecimento tiveram resultados superiores e conseguiram crescer mesmo em temos de crise econômica.
Com o arrefecimento da crise, em 2017 deve prevalecer a busca da entrega de valor e não de preço. A entrega de uma proposta de valor concreta deve direcionar os negócios. Com o aprendizado de 2016, em que a competitividade nos negócios se tornou extremamente acirrada e provocou a diminuição de margens, as empresas começaram a perceber a necessidade de se diferenciar pela entrega de valor e da diferenciação.
Todo esse contexto deve estar alinhado com a expectativa do consumidor para garantir que o investimento realizado efetivamente surtirá efeito. Quem focar apenas em briga de preço corre sérios riscos de perder espaço e principalmente o interesse do consumidor.
Construção do Valor
É notório e histórico que o setor de serviços é o que mais se beneficia da retomada econômica. E cada vez mais serão incorporados por empresas essencialmente transacionais. Como exemplo, empresas de venda de itens de casa e decoração investindo na prestação de serviço de design de interiores e inspeção kids – identificação de pontos que podem ser considerados inseguros para as crianças em casa, e readequação desses espaços. Seguradoras investindo em serviços agregados como saúde de pets e assistência sênior. Academias com serviços de acompanhamento nutricional, etc.
Propósito aliado às pessoas
Uma reflexão profunda do porquê a companhia existe. A mudança do consumidor teve também um reflexo na cultura das empresas.
Há de se ter um olhar para dentro que fará com que as companhias resgatem o que tem de mais essencial. E, a partir disso, traçarem seus caminhos para os próximos anos. A partir desse resgate se tornará também fundamental alinhar as pessoas da companhia com esse mesmo propósito. A essência de uma entrega de valor para o cliente será reflexo da essência da cultura e do propósito enraizados em todos que tem contato com ele.
E as franquias nesse cenário?
As franquias continuarão a chamar a atenção de grandes grupos de investidores e dos investidores individuais com desejo de possuir um negócio próprio. Tal crescimento do interesse em se tornar um franqueado num cenário adverso, vai exigir mais maturidade por parte dos atuais e futuros franqueadores, tanto na escolha do investidor quanto na estruturação do seu negócio.
Veja algumas dicas essenciais para que os franqueadores estejam mais preparados para 2017.
Capacitação
O mercado muda constantemente e a concorrência aumenta a cada dia, um profissional leigo, desinformado e sem conhecimento atualizado vai se perder no meio do caminho, e isso independe se o negócio já é bem estruturado. A falta de capacitação pode afogar até mesmo uma marca líder de mercado.
Não se trata apenas da capacitação do franqueado e sua equipe, mas a principal mudança vem da liderança da rede, do franqueador e de toda a sua estrutura (diretoria, gerencia, consultores, etc.). Todos precisarão estar munidos de muito embasamento técnico para dar suporte aos franqueados no momento de retomada, para que estejam preparados para receber de volta o consumidor que após um período de afastamento volta mais exigente, consciente e racional nos gastos.
Atenção à tecnologia
Muito além de garantir eficiência operacional por meio da tecnologia, há de se ficar atento às grandes possibilidades de negócios que ela traz. A profusão de dados disponíveis para levantamento de informações de mercado, concorrentes e clientes é infinita. No entanto de nada vale ter todas as respostas se não souber fazer a pergunta certa.
Por meio da identificação das informações chave do que se deseja obter e o que será feito com os dados, a tendência é focar na qualidade da informação para permitir uma tomada de decisão mais certeira.
Também em torno da tecnologia gravitam as possibilidades de aprimorar o processo de prospecção de futuros franqueados. Buscar informações disponíveis não apenas em fichas cadastrais, mas também em redes sociais, blogs, opiniões, hobbies e eventos torna-se fundamental para reduzir custos de captação, qualificar o perfil e acertar mais.
Experiência no ponto de venda
Para ser genuína e reverberar na mente do consumidor, a experiência de compra não deve ser exclusivamente associada a determinado canal de venda ou ponto de contato da marca com o consumidor.
Ela deve estar presente de forma mais ampla em todos os canais que devem se apropriar dos mais diversos recursos tecnológicos para se criar um espaço interessante, apostando no design, na diferenciação e personalização da experiência, no atendimento de necessidades não explicitas, e principalmente se conectando também com os aspectos emocionais dos clientes, ganhando não apenas um lugar no bolso mas também no coração das pessoas. Essa geração de experiência tende a encantar, envolver e fidelizar o cliente.
Conceitos, modelos e negócios promissores
Lojas Pop ups: Lojas temporárias, nas quais os contratos duram apenas meses. Neste caso o varejista ou franqueadora testam novos conceitos antes de os colocarem à prova no mercado. Consolidar uma marca/produto no mercado não é tarefa fácil, principalmente se o negócio é algo totalmente novo ou introduz um produto no mercado.
Economia colaborativa: Não é exatamente um conceito novo, mas ele passa a fazer parte do universo de algumas redes de franquias e negócios. É o conceito de que a posse já não faz tanto sentido, se há a possibilidade de compartilhar e usufruir de um bem ou serviço com outras pessoas e tudo transitando por meio de plataformas tecnológicas.
Conceitos já bem explorados como Airbnb e Uber foram as traduções pioneiras dessa vertente. Com a aprovação do mercado consumidor, algumas redes começam a se apropriar do conceito e criam novos modelos de negócio.
Como exemplo, temos o conceito desenvolvido pela Sport for Kids, que tem origem em Salvador. A empresa se utiliza de espaços ociosos em escolas e condomínios para oferecer serviços de atividade esportiva e lazer para crianças. Para agregar valor ao serviço educacional, as instituições de ensino estabelecem parceria com unidades para desenvolverem uma programação extracurricular para os alunos e, em contrapartida, a franquia se associa a empresas especializadas em diversas modalidades para compor um mix de profissionais que sejam adequados à necessidade das instituições.
Acessibilidade e Exclusividade
Acessibilidade é um dos temas mais em voga na atualidade e associado à necessidade de exclusividade do consumidor, tornaram promissores alguns negócios no franchising.
A Democrart, é uma galeria de arte de obras com edição limitada. A marca acredita que arte de qualidade produzida por artistas e fotógrafos em ascensão é um direito de todos.
E para tornar a arte mais acessível, e transformar a vida e o ambiente das pessoas para melhor, fazem a curadoria de obras e artistas para a produção de edições limitadas, numeradas e assinadas por eles. As obras assim, possuem preços acessíveis e não deixam de ter caráter de exclusividade uma vez que apenas algumas cópias são disponibilizadas para venda.
Terceiro Lugar com Diversão e Saúde
Com a vida agitada das grandes cidades, stress crescente e muitas responsabilidades, a necessidade de fugir da rotina de casa (primeiro lugar) e do trabalho (segundo lugar) se faz urgente para manter a saúde mental e física. Alguns negócios começam a explorar o conceito de “terceiro lugar”, ou seja, o lugar em que você consegue se desvencilhar das preocupações do dia e consegue “higienizar” a mente.
Explorando esse conceito, a Urban Motion trouxe para o Brasil o modelo de parque de trampolins interligados – a primeira franquia com esse mote do Brasil. Nele oferecem diferentes atividades além de pular, tais como piscina de espuma, jogos de queimada, aros de basquete, slackline, e outras. O espaço pode ser reservado para festas de aniversario, eventos corporativos e grupos escolares.
Pessoas de todas as idades são bem vindas. Os adultos que em um ambiente mais tradicional não se aventuram a pular, no parque entendem que saltar em um trampolim pode ser uma brincadeira possível, pois é democrática, sem limites de idade, tamanho e peso.
Os benefícios extrapolam a diversão. Além de ser uma atividade divertida é benéfico para a saúde, fortalece os músculos do corpo, é uma atividade cardiovascular e aumenta a densidade dos ossos, prevenindo fraturas e doenças dos ossos, melhora a habilidade motora e ensina o domínio de novas habilidades.
Flexibilidade e Sustentabilidade
Um exemplo desse modelo é a Spin’n Soul, um negócio inovador que e trouxe ao Brasil o primeiro estúdio de Spinning dentro do conceito de Full Body & Mind Workout, que inclui exercícios intensos que trabalham todo o corpo aliados ao componente mental – relaxamento e desligamento da rotina. Trata-se de “cardio santuário”, onde os praticantes de spinning se encontram para cuidar do corpo e da alma. A marca possui duas unidades em São Paulo.
Na Spin n’Soul não existe matrícula ou mensalidade. O aluno compra aulas avulsas ou pacotes, além de escolher o melhor horário e o professor de preferência. Com foco na sustentabilidade, as bicicletas funcionam sem qualquer energia elétrica, apenas com a energia do movimento do corpo.
Para quem não possui um horário regrado e são adeptos de negócios que se preocupam com o impacto no planeta, a Spin n’Soul se traduz numa academia sustentável e preocupada com conceitos que extrapolam o culto ao corpo.
Reflexão
Todos esses conceitos, para quem está distante do mercado, parecem que serão realidade somente no longo prazo. No entanto eles estão presentes aqui e agora. Muitas redes já exploram e entregam diferencial competitivo justamente por estarem atentas e serem as pioneiras na aplicação. Não temos mais a possibilidade de ignorar a força de tecnologia no ponto de venda, nem de deixar de considerar todos os movimentos do consumidor – cada vez mais atento aos conceitos de sustentabilidade, acessibilidade e democratização do consumo.
Olhar para dentro, identificando a essência da marca para ter impacto no ambiente externo é fundamental e urgente.
Caroline Bittencourt – Diretora do Grupo Bittencourt.
fonte: http://www.administradores.com.br